pandemia

Além dos números: conheça a história de duas vítimas santa-marienses da Covid-19

18.398

style="width: 100%;" data-filename="retriever">
Foto: Renan Mattos (Diário)
Tom, Sandra, Michel e Paola observam as recordações do pai e marido Antonio

Santa Maria contabiliza 79 óbitos em decorrência da Covid-19. Muito além dos números, cada vítima tem um nome, uma família, uma profissão e uma história. Cada vítima foi o amor de alguém. A seguir, contamos a história de duas delas. Pessoas queridas por familiares, amigos e pela comunidade. Pessoas que marcaram a trajetória de muitos santa-marienses e tiveram o próprio caminho interrompido pelo coronavírus.

CONHECIDO POR MUITOS, XITÃOZINHO GAÚCHO DEIXA SAUDADES
Santa Maria tem quase 300 mil habitantes, mas não é tão difícil assim achar alguém que conheça Antonio Altair de Souza, o Xitãozinho, ainda mais nos arredores do Bairro Itararé. Ferroviário, conhecido pelo envolvimento em festivais e eventos musicais nos anos 80 e 90, futebolista amador e atuante em campanhas políticas, Xitão agregou incontáveis amizades durante a vida. Ele foi uma das vítimas da Covid-19 em Santa Maria. No dia 29 de setembro, Antonio, 65 anos, faleceu em um leito de UTI do Hospital Regional. Deixou os pais, ainda vivos, a esposa Sandra, quatro filhos e dois netos. O neto mais novo, Benjamin, de cinco meses, não conheceu o avô. Ele reside em Bento Gonçalves, com a mãe Mirela e a irmã Ester.

Xitão foi um homem de amizades fáceis e conhecido na comunidade. Nasceu em Rio Pardo, passou por diversas cidades gaúchas na infância, acompanhando o pai ferroviário em sua função. Já em Santa Maria, concluiu o ensino médio no Colégio Manoel Ribas, ingressou no serviço militar e depois atuou como redator da RBS. Com o sonho de ser caminhoneiro, virou maquinista, e viajou pelo Rio Grande do Sul a bordo do trem. Nessa profissão, ficou por mais de 30 anos, até a aposentadoria em 2002.

style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">

No começo de setembro, Xitãozinho começou a se sentir cansado, mal. Ficou em casa, e a doença começou a evoluir, com tosse e dificuldade para respirar. Foi para a UPA, e, após exames, no dia 12 foi encaminhado para internação no Hospital Regional, onde a esposa Sandra trabalha como técnica em enfermagem. No dia 13, um domingo, foi encaminhado para a UTI. Sandra, que também testou positivo, assim como os filhos Paola e Michel, e teve que ficar isolada em casa. No dia 14 à noite, Xitãozinho ligou para a esposa e os filhos. Foi a última conversa. De madrugada, foi intubado. No dia 28, Sandra voltou ao trabalho, e encontrou o marido em estado grave. Naquele dia, os médicos autorizaram a visita dos filhos, que viram o pai pela última vez em vida. Na manhã seguinte, às 8h30min, faleceu. A dor da perda foi enorme para os familiares.

- No velório, não se pode carregar o caixão. É meu pai, eu tenho a obrigação moral de fazer isso. E também não se pode ver. O caixão é fechado, não tem nem o vidrinho para ver - lamenta o filho Michel, de 35 anos.

Conviver com a ausência tem sido um desafio para todos.

- Tem momentos, na hora da janta, que ainda servíamos um prato a mais, um copo a mais. Puxávamos a mesa para dar o lugar dele - conta Paola, 25.

Xitãozinho Gaúcho ganhou o apelido nos anos 80, quando trabalhava na organização de festivais e shows e caçava talentos musicais. Na época, usava um penteado parecido com o famoso cantor sertanejo. A semelhança física também era evidente. Na lida musical, conheceu Sandra em 1991. Dois anos depois, casaram. Gremista, Xitão também atuava no esporte amador, primeiro como jogador e depois como treinador. Passou pelo Igrejinha, do Bairro Itararé, e também pelo Aliado. Militante político, participou de campanhas durante toda a vida. Chegou até mesmo a atuar na campanha das eleições municipais de 2020. Xitão conheceu muita gente em sua trajetória:

- Ele ajudava muitas pessoas. Muitos consideravam ele como pai. Ele podia dar um puxão de orelha, mas nunca negava ajuda. Quando ele faleceu, muitas dessas pessoas não acreditavam que era verdade, que ele tinha realmente partido - relata Paola.

Inter-SM pretende jogar a Copinha

Sandra resume a personalidade da pessoa com quem dividiu boa parte da vida:

- Honesto, trabalhador. Uma pessoa muito correta. Fazia amizades facilmente, e às vezes era um pouco teimoso. Um pai muito amoroso, um marido espetacular. Ele deixava de pensar nele para primeiro ver os filhos, com toda a família.

COM INCONTÁVEIS AMIZADES, MANO DEIXA UM VAZIO DIFÍCIL DE SER PREENCHIDO

style="width: 100%;" data-filename="retriever">
Foto: arquivo pessoal
Heverton e a esposa Karin

Quanto mais árduo o sentimento de vazio após a perda de uma pessoa querida, maior a certeza da marca positiva deixada por ela. Heverton Prates, o Mano, uma das 79 vítimas santa-marienses da Covid-19, deixou uma incontável rede de amizades e familiares que tinham nele a certeza do companheirismo, do apoio a qualquer hora, do cuidado e do amor. Nascido e crescido em Santa Maria, a população também perdeu um servidor público dedicado. Superintendente administrativo e financeiro da Secretaria de Saúde, Mano combateu do início ao fim a doença que o vitimou. Heverton Prates, 49 anos, faleceu no dia 3 de outubro de 2020 no Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo.

Apaixonado pela família, pelos amigos e por Santa Maria. Sempre risonho, disposto a trabalhar e ajudar a quem precisa. Descrito pelos conhecidos como uma pessoa de ótimo caráter e vivacidade, Heverton estranhou o dia em que acordou indisposto e com febre. Com o teste positivo, voltou para casa bem. Lá, ficou isolado com a esposa Karin Duarte. Quando voltou a se sentir cansado, foi para o hospital no dia 23 de setembro. Ali, na portaria, foi a última vez em que Karin viu o companheiro. Internado e isolado, Heverton sempre manteve o otimismo em contato com a esposa por telefone.

Região de Santa Maria volta para bandeira laranja, aponta mapa preliminar

- Ele sempre estava otimista. Me mandava mensagens, falava que tinha falta de ar, mas que estava bem cuidado. Tivemos uma união muito grande, entre amigos, torcendo por ele, e nunca a gente pensou que fosse acabar dessa maneira - relata Karin.

style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">

Heverton e Karin se conheceram há mais de 20 anos, em um antigo bar na Rua Dr. Bozano. Ela se apaixonou pelo cara que sempre aparecia arrumado, bem vestido, perfumado, alegre e sorridente. Para ele, ela sempre foi a sua amada. Um amor sincero, ressaltado por parentes e amigos.

Para os amigos, foi um porto seguro:

- Um cara sempre disposto, cheio de vida, sempre pronto para viajar, curtir os amigos, juntar gente. Tínhamos várias turmas. Todas as sextas-feiras nos encontrávamos no Bar da Lourdes - conta Fabio Lemos do Nascimento, 49 anos, amigo desde a adolescência.

Em 2021, Heverton planejava uma festa de 150 anos: Mano, Karin e Fabio fariam 50 cada um.

Para a irmã Luciane, Mano era também o melhor amigo. Juntos, encararam a perda dos pais.

- Uma pessoa extremamente carismática, que prezava todos a sua volta, encantava com suas brincadeiras, sorriso, com sua responsabilidade com o trabalho tanto na prefeitura como no escritório de contabilidade que tínhamos juntos. Tivemos muita sorte de te-lo perto nessa vida. Sempre disposto a ajudar a quem precisasse dele, vai fazer muita, mas muita falta para todos. Ficou um vazio com a partida dele, mas o que nos dá esperança é a certeza do reencontro - desabafa.

No trabalho, Heverton era uma referência. Servidor há 23 anos, era admirado pela dedicação e auxílio aos colegas. Para o secretário de Saúde Guilherme Ribas, com quem construiu uma forte amizade, a perda é irreparável.

- Além de um colega de trabalho, além de um ótimo profissional, era um amigo pessoal. Era um servidor que antes do começo da pandemia, em fevereiro, já nos alertava que tínhamos que antecipar as compras de materiais antes de começarem os casos - conta.

Feriadão terá fiscalização reforçada nas rodovias federais

Heverton viveu a vida em Santa Maria. Quando criança, morou na Avenida Rio Branco. Residiu também no Bairro Rosário e residia atualmente na Nossa Senhora Medianeira. Estudou na Escola João Belém e no Manoel Ribas. Formou-se em Contabilidade na UFSM. Foi devoto de Nossa Senhora da Medianeira. Está sepultado no Cemitério Ecumênico de Santa Maria.

* colaborou Felipe Backes

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Boletim do RS registra mais 35 óbitos e 2.075 novos casos de Covid-19 Anterior

Boletim do RS registra mais 35 óbitos e 2.075 novos casos de Covid-19

Próximo

Santa Maria tem mais uma morte associada à Covid-19, e total chega a 79

Saúde